segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Causos do nosso futebol: "Dom Filpo salva sua pele"

A começar do linguajar, sempre na base do portunhol, Filpo, ou dom Filpo, como era carinhosamente tratado pelos jogadores, constituía-se, às vezes, numa verdadeira diversão. No Sport, por exemplo, além do sotaque, dom Filpo chamava a atenção pelas suas pernas brancas, tipo lesma. Mas, justiça seja feita. O milongueiro trabalhava pra homem nenhum botar defeito. Tanto trabalhava, como catimbava. Mas entendia do riscado e era respeitado pela boleirada. As histórias envolvendo Filpo Nuñez são inúmeras. Quando era técnico do Palmeiras, viajou com sua equipe à Argentina. Era no tempo da “academia”, com Valdemar Carabina, Dudu, Ademir da Guia e outros craques renomados. Lá, sem dúvida, ele sentia-se dono da situação, pois estava literalmente em casa. Falastrão como era, Filpo deitava e rolava junto aos jornalistas, que se mostravam sensibilizados com tanta gentileza. O Palmeiras jogava contra o Boca Juniors, time de grande torcida. Era um desses torneios que vez por outra colocam em confronto equipes do Brasil e da Argentina e levantam a rivalidade futebolística entre os dois países. Naquela noite no La Bombonera, pra variar, o clima esquentou. A certa altura o pau quebrou entre os jogadores. Os reservas do Palmeiras também caíram no fogo. Os do Boca, idem. Como não poderia deixar de ser, os policiais entraram em cena. Ainda era no tempo dos vários governos militares na América Latina, quando a turma fardada não dava moleza. E em meio ao sururu que se formou, os brasileiros do Palmeiras passaram a ser o alvo predileto dos sequiosos soldados portenhos. O pau quebrando solto, até que os jogadores descobriram que dom Filpe estava enxutinho da silva, no meio dos argentinos, pois quando os policiais o abordavam, ele, num espanhol fluente e cristalino, tirava de letra: - Não, não, eu sou argentino, brasileiros são aqueles lá. Nem falar português eu falo. Era verdade, pois falar português mesmo, ele jamais falou. Ou seja, malandramente, Filpe Nuñez negava qualquer envolvimento com o time do Palmeiras. Por falar um espanhol castiço com toda a ginga argentina, por motivos bem óbvios, acabava passando como algum funcionário ou mesmo dirigente do Boca, ou da Federação. E assim, ia se safando, em meio ao tumulto. Todavia, quando mais tarde os jogadores do Palmeiras souberam que dom Filpo tinha usado de tal expediente para salvar a pele, quase degolam o gringo. Deu trabalho para ele explicar o inexplicável. Mais histórias nos livros No Pé da Conversa e Comigo ou sem Migo ou pelo site http://www.nopedaconversa.com.br/ Contato pelos telefones (81) 3325.1426 e (81) 8807.5292 ou pelo e-mail moraesaragao@yahoo.com.br

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