sábado, 3 de novembro de 2007

Causos do nosso futebol: "O faroleiro de Rubão"

No começo de 1946, o Vasco da Gama excursionou ao Recife. Foi uma festa, principalmente pela presença do pernambucano Ademir, que havia iniciado sua carreira vestindo a camisa do Sport. Era a primeira vez que o Queixada vinha à sua terra, jogando pela equipe vascaína. Aliás, durante muito tempo, a torcida rubro-negra esteve ligadíssima ao Vasco, quando o normal seria que se bandeasse para os lados do Flamengo. Mas é que os vascaínos mantinham um permanente intercâmbio com os leões, em função de vários jogadores, que, depois de Ademir foram trocando a Ilha do Retiro por São Januário. O próprio “casá, casá”, contava Jovino Falcão, um dos fundadores da torcida-bloco Bafo do Leão - é uma corruptela do “casaca, casaca” vascaíno, gritado naquela ocasião pelos leoninos para homenagear Ademir, num coro puxado pelo chefe de torcida da época, Canguru. O Vasco fez três jogos, enfrentando Sport, Náutico, Santa Cruz e América, ganhando de fio a pavio. No dia de um dos jogos, o Recife amanheceu debaixo de chuva. O tempo estava inseguro. Com o céu cada vez mais nublado, começou a pairar a dúvida de sempre: haveria jogo ou não? Os clubes tinham investido muito e não estavam a fim de jogar dinheiro fora. Os torcedores, por sua vez, ficavam temerosos de sair de casa com o tempo fechado como estava. Reunidos, os dirigentes procuravam encontrar uma solução. Adiar o jogo seria perder o domingo, o dia propício para a prática do esporte bretão, como diziam os locutores antigamente. Chegaram à conclusão de que se tivessem que tomar uma atitude, isso teria que ser feito imediatamente. É que a torcida precisaria ser informada antes de ir para o estádio. Era necessário que se fizesse uma consulta a algum órgão ligado à meteorologia para se ter uma posição mais segura sobre as condições do tempo. Mas aí surgiu logo uma indagação. Como se faria essa consulta, se em sendo domingo estava tudo fechado? Foi aí que Rubem Moreira, o saudoso Rubão – ainda não era presidente da Federação, apenas militava no América – deu a idéia: - Vamos ligar pro farol de Olinda, que o homem lá em cima pode dizer alguma coisa. A sugestão de Rubão foi considerada genial. Deu trabalho, haja vista a precariedade de informações daquela época, mas descobriram o número do telefone do farol da Marim dos Caetés, cantado em prosa e verso e que serve de orientação para os navios que se aproximam do porto recifense em noites brumosas. Feita a ligação, do outro lado atendeu seu Pimentel, conhecido faroleiro, que se encontrava em plena madorna domingueira, enquanto não chegava a noite para pegar no serviço, orientando as embarcações, com as voltas que o farol dá, com seu feixe de luz, varrendo as águas de um lado para outro. Serviço que seu Pimentel fazia com muito prazer. Rubem Moreira apresentou-se, via telefone, explicou a incerteza em que todos se encontravam e pediu a opinião do homem sobre a situação. Vinha chuva ou não? Seu Pimentel pediu um tempo para dar uma sondada nas condições atmosféricas, criando uma enorme expectativa entre o pessoal do lado de cá. Depois de alguma espera, Rubem Moreira dava sinais de impaciência, já ensaiando os primeiros palavrões, quando seu Pimentel retomou a conversa e deu seu parecer. Curto e grosso: - Amigo, pra jogar bola não sei, agora pra tomar uma, tá uma beleza... Imaginem a lapa de palavrão que o explosivo Rubão deve ter soltado. Mais histórias nos livros No Pé da Conversa e Comigo ou sem Migo ou pelo site http://www.nopedaconversa.com.br/ Contato pelos telefones (81) 3325.1426 e (81) 8807.5292 ou pelo e-mail moraesaragao@yahoo.com.br

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