"Ademir impõe com seu jogo
o ritmo do chumbo (e o peso),
da lesma, da câmara lenta,
do homem dentro do pesadelo."
No poema acima, João Cabral de Melo Neto homenageia o ídolo Ademir da Guia. Poeta e craque em verso severino.
João Cabral poeta, craque e ex-jogador de futebol. Torcedor apaixonado do América-PE. Ademir da Guia, poeta intuitivo. Decassílabo. Alexandrino. Divino.
O futebol de Canhoteiro também se emaranhou na memória de Ferreira Gullar. Traduzindo uma parte na outra parte. Será arte?
Fosse o futebol um gênero literário, não seria prosa. Tão pouco seria um romance com começo, meio e fim.
Fosse o futebol um gênero literário, o futebol seria poesia. Pois todo jogador de futebol é um poeta.
Há os repentistas como Cafuringa, Rivaldo e Denílson. Os poetas concretistas Dunga e Zagalo. Os românticos como Telê, Mário de Castro e Tim. Os épicos como Barbosa e Heleno de Freitas.
O haikai flamenguista de Radar e do ponta esquerda Júlio César. Breves. Simbólicos. E como esquecer o Homero do futebol brasileiro, Nilton Santos?
Mas a poesia no futebol brasileiro não se restringe na habilidade com a bola nos pés. A poesia no futebol brasileiro escorre da pena de Armando Nogueira.
Reluz no anjo de pernas tortas do poetinha Vinícius de Moraes. Ou na poesia cruzmaltina de Carlos Drummond de Andrade.
A poesia no futebol brasileiro ocupa até as crônicas do futebol brasileiro. Pois não será poesia o texto de Mário Filho e Nélson Rodrigues? Ou a camisa contra o vento de Roberto Drummond?
No dia 20 de outubro se comemora o dia nacional da poesia. Outubro, não por acaso mês de Iashin, Charlton, Pelé, Maradona e Mané Garrincha.
Muitos torcedores apaixonados compreendem a poesia no futebol. Outros tantos, não enxergam poesia nas quatro linhas do gramado. Exigem relatos jornalísticos. Pragmáticos. Analíticos.
Mas tanto uns quanto outros gritam e choram no instante de um gol. Rima rica de quem no futebol, simplemente, amou...
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