domingo, 20 de janeiro de 2008

Viajando no Tempo: A importação de jogadores

Por Carlos Celso Cordeiro*
Sport e América importam jogadores Nos primeiros anos após a introdução do futebol em Pernambuco, as atividades dos clubes recifenses limitavam-se à disputa de jogos amistosos. Reinava o amadorismo puro. Os jogadores eram sócios dos clubes e, ao contrário do que ocorre atualmente, pagavam para jogar. Até coisas singelas, como lavar a camisa e o calção, eram responsabilidades dos jogadores que envergavam o uniforme. Com o início da disputa do Campeonato Pernambucano cresceu o empenho dos clubes em obter as vitórias que conduzissem ao título de campeão. Embora a regra geral de que os times fossem formados por sócios dos clubes continuasse em vigor, situações especiais começaram a ocorrer. Alguns clubes começaram a utilizar uma prática diferente. Traziam jogadores de fora de Pernambuco para fortalecer suas equipes, transformavam estes jogadores em sócios e, paralelamente, conseguiam algum tipo de emprego para que os novos “sócios” pudessem se manter. Sport e América foram os clubes que adotaram esta prática. E não por coincidência, foram exatamente eles que ganharam 12 dos 13 títulos disputados entre 1916 e 1928. O Sport ganhou 7 e o América ganhou 5. Achamos oportuno fazer um ligeiro parêntesis na análise do que ocorreu no período até 1928, para fazer uma viagem para a década de 1991 a 2000, e avaliar outra situação especial. Nestes dez anos ocorreu o seguinte: Lastreado numa verba muito mais polpuda do que a dos rivais Náutico e Santa Cruz, o Sport ganhou 8 dos 10 títulos disputados. Surge uma pergunta. Por que o Sport teve direito a uma verba mais polpuda? A resposta é simples. Quando o Campeonato Brasileiro passou a ter uma verba mais significativa, os clubes mais importantes do Rio de Janeiro e de São Paulo se apressaram em criar um órgão, que chamaram “Clube dos treze” para dividir o bolo de forma mais vantajosa para eles. A princípio era o Santa Cruz e não o Sport um dos 16 clubes brasileiros que faziam parte do “Clube dos treze”. Depois, numa manobra esperta dos dirigentes rubro-negros, passou a ser o Sport e não o Santa Cruz, o componente pernambucano do “Clube dos treze”. Esta manobra rendeu a Sport a hegemonia dos 8 títulos em 10 disputados. Feito o parêntesis, voltemos ao ponto anterior. Para evitar surpresas, como ocorreu no campeonato de 1916, quando o Sport importou Paulino, do América do Rio, para reforçar seu time, novas regras foram estabelecidas. Primeiro, ficou determinado que só poderia jogar quem fosse sócio a, pelo menos, dois meses. Depois, a exigência de que o sócio estivesse residindo em Recife a, pelo menos dois meses também foi adotada. Este estado de coisas era aceito e adotado por Sport e América, mas, por outro lado, não era bem visto por Náutico e Santa Cruz que defendiam o amadorismo puro. No seio da imprensa também não havia unanimidade. Alguns eram favoráveis ao amadorismo puro e outros aceitavam o falso amadorismo. O tempo se encarregou de mostrar que Sport e América estavam certos, tanto que, já na década de 1930 clubes pernambucanos tinham jogadores profissionais em suas fileiras. Como os clubes também continuavam com jogadores amadores, era comum a imprensa falar de campeonato misto, o misto se referindo à mistura de jogadores amadores e profissionais. Primeiras importações do Sport Paulino Silva Para reforçar o time nos jogos decisivos do campeonato de 1916, primeiro contra o Náutico e depois contra o Santa Cruz, o Sport trouxe o zagueiro Paulino, um dos destaques do América do Rio na temporada que fez em Recife em novembro de 1915. Paulino foi companheiro de zaga de Belfort, o Belfort Duarte, no América do Rio. Quando O América conquistou o título de Campeão carioca de 1916, Paulino participou de todas as 12 partidas da campanha americana. Nos jogos decisivos do Campeonato Pernambucano de 1916 defendeu o Sport. Para justificar a presença de Paulino na equipe, os dirigentes rubro-negros mandaram publicar um telegrama, procedente do Correio da Manhã do Rio de janeiro, informando que Paulino era linotipista daquele Jornal e não jogador profissional de futebol. Cyro Werneck Cyro Werneck foi feito sócio do Sport e veio ao Recife uma única vez para jogar a partida final do Campeonato Pernambucano de 1917. O que os estatutos da Liga requeriam é que o sócio tivesse dois meses de inscrição. Ora Cyro Werneck foi inscrito na Liga em sessão de 29 de setembro de 1917, estava, portanto, legalizado para disputar a partida final, contra o Santa Cruz, no dia 02 de dezembro de 1917. Cyro Werneck jogou e o Sport venceu, de virada, por 3x1. Cyro Werneck assinalou o segundo gol do Sport, o da virada. Antônio Almeida – Ferramenta e Benedicto Fernandes Como Paulino e Cyro Werneck já haviam jogado no Campeonato Carioca de 1918 e não poderiam mais participar do Campeonato Pernambucano daquele ano, o Sport trouxe, como reforços, de São Paulo e do Rio de Janeiro, Ferramenta e Benedicto Fernandes, desta vez com a intenção de mantê-los durante todo o campeonato. Benedicto Fernandes demorou várias temporadas em Recife, tendo sido campeão pelo Sport em 1920 e, também, tri-campeão de 1923 a 1925. Quanto a Ferramenta, disputou o campeonato de 1918 e depois virou árbitro no futebol pernambucano. O América resolve importar O sucesso do Sport com a importação de jogadores levou o América a repetir a atitude dos rubro-negros. Havia uma Taça oferecida, provisoriamente, ao campeão do ano. Estava previsto que o clube que conseguisse o título por três anos seguidos ficaria com a posse definitiva da Taça. Objetivando impedir o tri-campeonato leonino, os alvi-verdes resolveram fortalecer seu time com jogadores de outros centros esportivos. A forma como o América procedeu foi diferente do que o Sport fizera até então. O América trouxe jogadores para disputar o campeonato inteiro e não apenas para as partidas decisivas. Para disputar o campeonato pernambucano de 1918 o América importou os seguintes jogadores: Alexi Nuyens e Francisco Bermudes Alexi era zagueiro e Bermudes era center-half da AA das Palmeiras quando aquele clube Paulista jogou 4 partidas em Recife no mês de outubro de 1917. Alexi e Bermudes disputaram os Campeonatos Pernambucanos de 1918 e 1919, sendo bi-campeões com o América. Ainda começaram a disputar o campeonato de 1920, mas o América abandonou a competição, porque teve 4 jogadores suspensos em decorrência do conflito com o árbitro por causa dos dois gols anulados no jogo América 1x2 Santa Cruz. Antônio Peres Antônio Peres, também chamado Peres I, jogava como atacante. Atuou pelo Corinthians de 1913 a 1916, sendo campeão paulista em 1914 e 1916. Em 1917 disputou o campeonato paulista pelo Ipiranga. Antonio Peres chegou para o América em 1918 sendo bi-campeão de 1918 a 1919. Começou a disputar o campeonato de 1920 do qual o América se retirou. AGUARDE A CONTINUAÇÃO
*O autor Carlos Celso Cordeiro, escritor e pesquisador do Futebol Pernambucano, formado em Engenharia Mecânia e posteriormente em Administração de Empresas, traduz-se hoje na maior referência sobre pesquisa de futebol no estado. Livros Publicados: Campeonato Pernambucano (1915 a 1970) Campeonato Pernambucano (1971 a 2000) Sport - Retrospecto (1905 a 1959) Sport - Retrospecto (1960 a 1979) Sport - Retrospecto (1980 a 1999) Náutico - Retrospecto de Todos os Jogos (1909 a 1969) Náutico - Retrospecto de Todos os Jogos (1970 a 1984) Náutico - Retrospecto de Todos os Jogos (1985 a 1999) Náutico - Grandes Goleadores: Kuki

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