Pouca gente sabe, mas Maria Edilene de Siqueira, a primeira árbitra pernambucana, hoje já fora dos gramados, é caruaruense. É verdade que só fez nascer em Caruaru, pois seus pais mudaram-se para o Recife, quando ela ainda engatinhava.
Após nove anos integrando o quadro de árbitros da Federação Pernambucana de Futebol, comendo da banda podre nos campos do subúrbio, Edilene, que também é agente de polícia, só em 1992 ascendeu à categoria profissional, isso, depois que foi incluída no quadro nacional de arbitragem feminina, criado pela Cobraf, a Comissão Brasileira de Arbitragem de Futebol.
Quem pensa que ela entrou no ramo, assim sem mais nem menos está enganado. Jogava futebol feminino, defendendo o time denominado Coloridas, que representava o Santa Cruz, chegando a ser vice-artilheira de uma das edições da Taça Cidade do Recife, com 16 gols. Na sua frente, apenas Mana, do Sport, a equipe campeã.
Agora, tratando de regra de futebol, Edilene não entendia patavina e estava sempre discutindo com os árbitros, questionando a marcação das faltas, impedimentos, etc. Até que um dia foi presenteada por Jasson Vanderlei, o cartola de seu time, ou seja, o tampa de crush do Coloridas, com o célebre livro de Leopoldo Santana, tido e havido como uma verdadeira bíblia da arbitragem. De tanto ler as regras, terminou se interessando por elas, inscreveu-se no curso de árbitros da Federação e lançou-se no mundo da arbitragem.
Quando apitava no subúrbio, em campos poeirentos e despoliciados, além de serem desprovidos dos equipamentos necessários, já chegava com o uniforme de jogo debaixo da blusa e da calça comprida. Ali mesmo na cancha, desvencilhava-se da roupa. A reação da torcida era de espanto duplo. Primeiro, porque os marmanjos não contavam com aquela inesperada cena de strip-tease; depois porque não era strip-tease coisa nenhuma, pois a juíza estava vestidinha da silva, com o fardamento de jogo por baixo. Certa vez, ainda sem conhecer os macetes, ela foi apitar num desses campos, deixou para trocar de roupa lá e teve que se uniformizar no meio do mato, com nego de vigia para não deixar os “curiosos” se aproximarem, uma vez que não existia vestiário.
Edilene foi galgando degrau por degrau a escada da arbitragem, até chegar onde chegou, enfrentando o machismo que impera no futebol. Com uma porção de irmãos, sempre contou com o apoio doméstico para ir em frente. Em determinada ocasião, com o Estádio da Ilha do Retiro apinhado de gente, pois jogavam Sport e Santa Cruz, ela dirigiu a preliminar, entre juniores.
Sua presença no comando da partida, despertava a atenção dos torcedores que aguardavam o encontro principal. Ainda desconhecida, a juíza ia cumprindo sua missão.Terminado o jogo, feliz por ter levado sua tarefa até o fim, com sucesso, Edilene descobriu um de seus irmãos, o cabo Hélio, que estava trabalhando no policiamento do estádio. Foi até ele e tacou-lhe o maior abraço, seguido dos clássicos beijinhos, sem se lembrar que estava no meio do povaréu.
A galera não perdoou, e pensando que se tratasse de outra coisa, deu o maior levante. Foi aí que Edilene voltou à realidade, lembrando-se que não estava em casa e sim num campo de futebol. Mas a zona já estava feita.
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