domingo, 11 de novembro de 2007

Causos do nosso futebol: "Os fumantes"

Tempos do mineiro Davi Ferreira, o consagrado Duque, na Ilha do Retiro. Sob a batuta de Jarbas Guimarães, o Sport arregimentava-se para tirar o pé da lama, depois de 12 anos vendo apenas seus adversários fazerem a festa no Campeonato Pernambucano. Na concentração e ao mesmo tempo morada de alguns jogadores, em Boa Viagem , havia uma mistura de sotaques. Ora era o tchê meio ríspido da gauchada, ora o uai das Alterosas trazido pelo carioca amineirado Dario Peito de Aço, passando pelo falar meio cantado da turma do Rio, e pela voz entoada do cearense. Junte-se a isso o oxente do pessoal da terra. Assim, havia uma grande variedade de entonação vocal e de termos regionais Na concentração, o técnico de vez em quando pedia ao cozinheiro Zé Guaru, para preparar, no sábado, um cozido ou uma mão-de-vaca, pratos que saboreava bastante e que, segundo dizia, dão muita sustança. O pessoal também se deleitava com as iguarias de Zé Guaru. Numa dessas ocasiões, com o aroma do cozido espalhando-se por todos os cantos do casarão, aguçando cada vez mais o apetite da boleirada, passou a haver um verdadeiro desfile de jogador transitando pela sala, onde estrategicamente Duque se plantava, com um pedido inocente: - Chefe, eu vou aqui junto comprar cigarro. Nada demais. Naquele tempo não havia as persistentes campanhas antitabagistas, como hoje. O próprio Duque estava sempre puxando seu “alecrim do mato”, conforme, cheio de gíria como era, chamava àquele papelzinho enrolado de fumo, que tanto mal causa ao organismo humano, como está cientificamente provado. A permissão era concedida, e o jogador dirigia-se a uma barraca que existia nas proximidades da concentração. Só que demorava um pouquinho para voltar. Cada vez mais aumentava a movimentação de jogadores pedindo permissão ou simplesmente avisando que iam em busca do tabaco. Até aí nada demais. Mas, matreiro como sempre foi, Duque desconfiou do fato de, repentinamente tanta gente ter ficado sem cigarro Chamou o preparador físico Edson Nogueira, Edinho, hoje presidente do Santa Cruz, fora do futebol um esperto delegado de polícia, e um dos homens de confiança de Duque, e passou o bizu: - Major, nesse movimento aí de comprar cigarro, tem até gente que não fuma. Eu vou dar uma espiada. Para tirar as dúvidas, foi até a barraca onde seus comandados se reabasteciam, logicamente aproveitando um momento em que já não havia jogador por lá, pois todos tinham voltado. Sem se identificar e também sem ser reconhecido, começou a jogar conversa fora com o proprietário do estabelecimento. Lá para as tantas soltou a pedra: - Chefe, esse pessoal ali, é um tal de comprar cigarro, hein? Nunca vi fumar tanto. Simplório, o barraqueiro nem desconfiou de que estava caindo numa armadilha e fez uma entrega geral: - Cigarro não, patrão, mas cerveja, não dá nem pra gelar direito...

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