Grande vitória do time que jogou para ganhar
Partida disputadíssima — o tempo todo. O grau superlativo da disputa é a conseqüência de uma mistura que inclui a extrema necessidade de se distanciar da zona de rebaixamento e a enorme determinação dos jogadores — mostrada em cada disputa de bola. Os jogadores de ambas as partes lutaram bastante, com muita vontade, muita disposição. A marcação foi forte dos dois lados. Houve momentos de equilíbrio, principalmente nos longos períodos em que o jogo se encontrava congestionado no meio-de-campo. Essa dose de equilíbrio de boa parte da partida a deixava truncada, não a deixava fluir, na medida em que o Corinthians marcava forte no meio-de-campo, com muitas vezes seis homens (isso sem falar dos três zagueiros), complicando a criação de jogadas do time adversário. Esta era a principal missão do time alvinegro: marcar. A outra era contra-atacar. Se, por um lado, cumpriu bem a primeira, não se pode dizer o mesmo da segunda. Nas duas boas chances que criou — dois contra-ataques, um em cada tempo —, Fabiano fez duas grandes defesas. Ao contrário do Corinthians, o Náutico tinha um único objetivo: conquistar os três pontos. Eis aí a primeira grande diferença entre alvirrubros e alvinegros na partida.
Contrariando a visão de muitos que afirmaram haver um constante equilíbrio na partida, o volume de jogo do Náutico e a quantidade bem maior de finalizações mostram, na verdade, uma disparidade entre o futebol apresentado pelas equipes. O equilíbrio existiu, mas eventualmente o Náutico conseguia boas jogadas, em maior quantidade que o Corinthians. O Timbu, apesar das dificuldades que teve no setor ofensivo, devidas à ausência do craque do time e à lesão prematura de Felipe (vice-artilheiro da equipe, com 9 gols, que se machucou no primeiro tempo), teve mais iniciativa e qualidade para atacar. Se havia um time que merecia sair com os três pontos, era o Náutico mesmo. O Alvirrubro bem mais perigoso, tanto que, em boas finalizações, obrigou o goleiro Felipe (ou melhor: o goleiraço Felipe, melhor jogador do Corinthians) a realizar pelo menos quatro excelentes defesas. Além disso, Geraldo, antes de fazer o gol da vitória, teve uma chance claríssima, fruto de um cruzamento, em que ele, na cara do gol, "cheirou" a bola (expressão usada aqui em Recife quando o jogador perde o tempo da bola e, de maneira bizonha, chuta o vento, enquanto a pelota vai-se embora).
No plano tático, há de se comentar que o Náutico entrou em campo com atacantes de mais (Marcelinho, Felipe e Ferreira) e meias-armadores de menos (apenas Geraldo). Assim como contra o Juventude, o time teve dificuldades do meio para frente, principalmente por conta da falta de alguém que articulasse, junto com Geraldo, as jogadas de ataque. Isso no primeiro tempo. É verdade que, nessa etapa, o Náutico teve boas chances, uma com Marcelinho e outra com o atacante Felipe, que foi muito bem defendida pelo goleiro Felipe. Porém, a escolha de Ferreira para substituir Acosta mostrou não ser a melhor. E o motivo disso não foi a sua participação — que não foi ruim —, mas pelo simples fato de que seria mais vantajoso para o Náutico contar com outro meio-campista, ao invés de um homem de referência no ataque que, devido à pouca criatividade do time com um meia, viria a ter pouca ou nenhuma oportunidade de cumprir o seu principal dever: fazer o gol. Essa análise é comprovada pela melhoria do time, no segundo tempo, com a entrada de Radamés, que deu mais consistência à equipe.
Lembrete: já podemos considerar Acosta atacante, mas ele é muito diferente de Ferreira, pois vem de traz e também é importante na criação, enquanto o outro joga enfiado no meio dos zagueiros, cumprindo o papel de pivô, esperando alguma bola na área para alcançar o gol. Isso tinha de ser explicado por causa do seguinte: o problema não é a formação 4-3-3 em si, mas colocar nas costas de Geraldo toda a responsabilidade de armar, sozinho, as jogadas ofensivas. É isso que termina acontecendo quando o time entra com três atacantes de origem, na medida em que o meio fica adequadamente ocupado e há uma sobrecarga também nos volantes e laterais na marcação, além da dificuldade na saída de bola. Um bom estrategista tem de saber que, em algumas circunstâncias, é preciso retroceder para, em seguida, avançar. Foi isso que Beto Fernandes fez, quando substituiu o atacante Ferreira pelo meia Radamés.
No final, deu o time que quis jogo, que fez por onde vencer. Vitória — aliás — merecida.
Obs: Breno Pires é estudante de jornalismo e colunista do Futeblogpe
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