domingo, 30 de dezembro de 2007

"Causos" do nosso futebol: O cavaleiro errante

Tempo do milionário James Thorp, que a torcida do Santa Cruz tratava pelo “Galego”. James, dono da White Martins, andava gastando dinheiro a rodo no Santa. O Tricolor tinha contratado três novos jogadores. Eram eles o zagueiro Zé Carlos, o volante Osvaldo e o ponta-direita Iaúca, que haviam despertado o interesse do clube nos jogos do Grêmio Maringá com o Sport, no cruzamento dos campeões dos torneios Norte/Nordeste e Centro/Sul. O time paranaense ganhou lá e cá, ambos os jogos por 3x0. A torcida do Náutico aproveitou o mote, e sempre que os dois times enfrentavam-se, os alvirrubros cantavam a conhecida música de Joubert de Carvalho, que tem como refrão: “Maringá, Maringá...” Bom, os três profissionais deixaram uma impressão favorável no jogo disputado na Ilha do Retiro. Como dinheiro não era problema no Arruda, foi fácil contratá-los. Dos três, logo um passou a se destacar, não tanto pelo futebol, mas pelas presepadas que fazia. Era Zé Carlos, um galegão boa pinta, mas malandro à beça, do tipo que a boleirada chama de bandido. Fosse nos treinos ou na concentração, estava sempre divertindo os companheiros e sendo motivo de chacota. Era ainda a fase do antigo Alçapão do Arruda, pois não havia a grandiosidade atual do Colosso. A concentração funcionava ali mesmo no estádio e servia de residência para vários jogadores, inclusive o técnico Duque. O local que servia de refeitório era aberto, dando para as cercanias do campo. Um dia, quando o austero treinador se encontrava devorando tranqüilamente um caprichado filé, na hora do almoço, levou um susto tremendo. Teve que respirar fundo para se refazer da surpresa. A poucos centímetros de seu prato, com a cara roçando a mesa, enormes dentes à mostra, um jumento dava o ar de sua graça. Só que o animal não estava só, pois trazia em seu dorso nada mais, nada menos, que o incorrigível Zé Carlos, que fazia mais uma das suas. Duque não gostou da brincadeira e passou um enorme carão no zagueiro. Zé Carlos, o cavaleiro errante, ou errado, não perdeu o rebolado e respondeu com uma pergunta que aborreceu mais ainda o treinador: ”O que é que tem que ele coma com os colegas?" Os outros jogadores, que acompanhavam interessadamente o episódio, soltaram uma sonora gargalhada, aumentando a irritação do treinador, que mandou a dupla - Zé Carlos e o jumento - baixarem noutra sessão. E, como diz o ditado, foi embora o jumento e quem o tangia.
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